Discutir propostas para a melhor gestão do nosso centro histórico e de Belém. Temas como meio ambiente, cidadania, patrimônio material e imaterial, cultura e ações para uma cidade sustentável são pautas que há 7 anos o Circular Campina Cidade Velha vem trazendo para suas edições e iniciativas, como a Revista Circular Digital, criada há cinco anos, e o Fórum, que realizamos há três. De forma apartidária, essas sempre foram nossa bandeiras. E com elas, sempre estivemos dispostos a sentar com diversos parceiros e com o poder público, para dialogar e expor nossos anseios.
Por diversas vezes reunimos com o prefeito Zenaldo Coutinho e seu secretariado, nunca para pedir recursos financeiros. Nas pautas, sempre explicitamos a urgência do cumprimento, pela administração municipal, do que é dever: limpeza urbana, iluminação, saneamento, segurança. Podemos dizer que muito pouco ou nada foi atendido e, quando foi, não durou. Por isso é que depois de analisar propostas dos dois candidatos que disputam a prefeitura de Belém no próximo dia 29, o projeto Circular não poderia se posicionar diferente e publicizou o apoio ao candidato Edmilson Rodrigues.
Circular e parceiros apontam a Belém que queremos
No último domingo, 22, o Circular também abriu uma janela para que parceiros e representantes de diversos movimentos sócio culturais da cidade, que se identificam com os valores do CIrcular, se pronunciassem sobre a atuação que deve ter um prefeito em nossa capital, não somente no centro histórico.
A live “Belém do Amanhã”, contou com 4 colaboradores ativos do Circular, e mais 10 convidados, que concatenaram suas perspectivas para o futuro de nossa cidade. A arquiteta Dorotéa Lima, coordenadora do Fórum Nacional de entidades em Defesa do Patrimônio-Pará e do Fórum Circular – Patrimônio, Cidadania e Sustentabilidade; e Goretti Tavares, professora e coordenadora do projeto de extensão Roteiro Geo – Turístico da UFPA; o historiador Michel Pinho e a professora e também arquiteta da FAU (UFPA), Roberta Rodrigues conduziram uma conversa que durou mais de duas horas e que pode ser conferida na íntegra, na live gravada em nosso canal de Youtube.
O que anseio a sociedade civil organizada
Pertencimento e amor à cidade, diversidade, representatividade, mobilidade e meio ambiente, educação e transformação, cidadania. Essas foram algumas das palavras-chave da primeira parte dessa espécie de fórum de expectativas e de apresentação de ações macro para uma mudança significativa da nossa realidade nos próximos anos.
“A Belém que nós queremos, estamos nos desafiando a fazê-la, a partir do entendimento que Belém somos nós. Os governantes precisam atender aos nossos desejos, nossas ânsias. Tudo isso em um movimento de bairro pra cima”, avaliou Raimundo Oliveira, do Espaço Nossa Biblioteca, localizado no bairro do Guamá. O ativista comunitário descreve com uma visão ampla a ideia de que precisamos ver a cidade como um todo, mas partir de ruas, bairros, regiões, para aí sim enxergar Belém como uma cidade de todos.
Para isso, é preciso saber o que acontece nos territórios. “Ainda estamos, no Guamá, nos construindo como comunidade. Aqui e em bairros próximo, a polícia significa não somente segurança, mas também perigo. Partimos de uma situação de desvantagem e marginalização. Para isso, precisamos entender o que nós somos. Precisamos trabalhar pelas construções intelectuais. Precisamos ter usar do direito de pertencer à cidade. Precisamos desencadear processos que nos transformem em cidadãos que interajam com essa cidade”, explicou Raimundo.
Caldeirão democrático
Esse processo e conexão cidadão e cidade também permeia as aspirações da Joana Lima, da Associação dos Moradores e Comerciantes da Campina, bairro que agrega um universo grande de transeuntes, como migrantes, trabalhadores informais, profissionais do sexo, além de estar rodeado de construções históricas. Ela acredita que o olhar sobre a diversidade é a resposta para o futuro de Belém.
“O nosso entendimento da gestão da segurança pública, por exemplo, era polícia. E o Circular mostrou que a segurança somos todos nós, por todos os aspectos que compõem a vida aqui no nosso bairro. A Belém que eu quero é uma Belém que respeite o patrimônio histórico, de olhares sobre a cultura, sobre a questão da coleta seletiva, do transporte público para os ciclistas, idosos. Notamos, inclusive, um desconhecimento das leis dos códigos de postura do nosso município por parte dos nossos representantes. Queremos um gestor que ame a cidade e que tenha um olhar macro, para atuar em pontos estratégicos, como a periferia de Belém”, afirmou.
O aspecto da mobilidade urbana é apontado, por Melissa Noguchi, como uma alternativa para três outros pontos críticos que merecem a atenção dos gestores da cidade: meio ambiente, trânsito e transporte coletivo.
“Belém precisa de foco e investimento em políticas públicas voltadas para uma mobilidade urbana de qualidade. Precisamos valorizar esse modal, que traz a transversalidade no debate e benefícios em diversos segmentos saúde e meio ambiente. Precisamos de candidatos comprometidos com esse fim”, disse a jornalista e cicloativista do ParáCiClo e Pedala Mana.
Como você se vê Cidadão?
O empresário e produtor cultural Na Figueiredo trouxe para o debate outro viés, de questionamento para a sociedade. Você se vê cidadão? Como cobrar cidadania sem ser cidadão? Foram questões levantadas em sua fala.
“O cidadão agride a cidade e a cidade agride de volta. Eu não sou daqui, mas tem coisas fáceis de perceber. O paraense é hospitaleiro, mas você também vê uma cidade muito selvagem, agressiva. É uma loucura como nós, cidadãos, tratamos a cidade. Nosso trânsito é uma loucura. No centro, vemos carros nas calçadas, lixo”, pontua.
Na Figueredo quer participação ativa, da compreensão do cidadão enquanto habitante inserido nessa cidade. “Eu acho que a Belém de amanhã só vai funcionar se eu, enquanto cidadão, tiver um canal que eu possa conversar com a gestão pública, que eu possa exigir a minha cidadania. O que sugiro é: abra canais de diálogo, faça com que eu seja cidadão, que eu participe. A partir daí, é educação. Não nos acham hospitaleiros? Então chame os cidadãos e os faça se verem hospitaleiros. Como é importante amarem a sua cidade. Se não houver participação nossa enquanto cidadão, com respeito e amor à cidade, não teremos uma Belém do amanhã”, ponderou.
O Circular também deu voz para a Giovanna Cabral, moradora da Sacramenta, criadora de conteúdo do projeto Karmadacena e integrante da Clínica de direitos Humanos/CESUPA, que abordou pontos cruciais para o desenvolvimento da cidade. A jovem lembra do quanto a periferia é invisibilizada nesse processo de crescimento.
“Temos uma Belém plural e precisamos de políticos que olhem e lutem por isso. Na Sacramenta, ainda temos ruas sem asfalto, não temos segurança, lazer. A Belém que eu quero é uma Belém que a gente se sinta representado, que olhe para os nossos jovens, nossas crianças”.
Do centro para a Sacramenta
Como uma cidade que é cercada de água por todos os lados, Belém ouve as necessidades de quem vive às margens? Moradora e atuante na Ilha de Outeiro, Nailce Ferreira é professora e guardiã do Cordão de Pássaro Urubu. Como ser cidadão sem acesso à educação, sem valorização da cultura? A arte educadora lembra: é preciso trabalhar a resistência e abrir caminho para a educação como ferramenta de transformação.
Para resistir, é preciso se reconhecer e, antes disso, conhecer. Esse processo de conhecimento deve alcançar a gestão de uma cidade, e a produtora cultural e pesquisadora de Icoaraci, Auda Piani, lembra logo no início do segundo bloco de participações da live, que um gestor precisa conhecer o local por meio de quem vive no local – homem, natureza.
No segundo bloco, mais 4 convidados, assim como Auda, palmilharam a cidade de forma virtual para apresentar suas demandas, efetivas em alcance. “Cidade é ponto de afeto, de reconhecimento. Em Icoaraci, por exemplo, temos a convivência com mestres ceramistas, temos a ligação com o rio. Quem está no debate não pode deixar de chamar atenção também para essa questão afetiva que está sendo perdida. Precisamos buscar esse pertencer”, ressalta a também gestora do espaço Na Casa do Artista, de Icoaraci.
Esse processo de se sentir parte de uma cidade como lugar de afeto está diretamente ligado ao processo de visibilidade de causas também e de necessidades de determinados grupos. Para Beto Paes, representante do Movimento LGBT + do Pará, Aliança Nacionalidade LGBT + Rede Gay do Brasil, a política mais urgente voltada para essa população é a de proteção. Como atender as demandas de uma parcela sem ao menos ser capaz de protegê-las?
Diversidade
“Há 12 anos somos o país que mais mata pessoas trans no mundo, e o Pará continua como o estado que mais mata pessoas LGBTI no Norte do país. Feliz de trazer as vozes da população LGBTI para esse espaço, mas ainda temos muita violência para combater. Nós temos o direito à cidade. Ainda não somos de fato contemplamos por uma gestão para nos proteger da violação dos nossos direitos,” reforça Beto.
E é em meio a esse universo de possibilidades que o presidente do Observatório Social de Belém, Ivan Costa, reconhece: a cidade precisa ver os defeitos, os problemas, mas também falar sobre as virtudes. E cobrar. É preciso cobrar. Para ele, a Belém que decidimos o de ontem, busca hoje exatamente o que o Circular está fazendo. “Temos movimentos ativistas riquíssimos movimentos artísticos, mas acabamos reverberando as histórias ruins. Precisamos, todos, assumir o papel de contribuintes”. Ele ressaltou que independente de quem assumir a prefeitura, “nós devemos continuar radicalmente democráticos. É fundamental continuarmos a falar das alternativas, sermos propositivos”, concluiu.
Da cidade para o rio
A comunicóloga e educadora sócio ambiental, co fundadora do Coletivo Ame o Tucunduba, Mariana Guimarães, apresentou a necessidade de olharmos para os rios. Mas não somente para o outro lado. A perspectiva, agora, é aqui pertinho. Sabia que todo bairro tem uma bacia hidrográfica?
“Mesmo sendo moradora de uma região que conta sua história através dos rios, surgimos nos questionando por que não enxergamos os rios que estão na cidade só percebemos os rios como canais, esgotos, especialmente nas regiões periféricas”, analisa.
Assim como os demais participantes, Mariana propõe uma mudança de relações, de visão, para assim ocorrer a transformação. “Precisamos mudar nossas relações com as águas no centro da cidade. A gente não quer que o rio seja aterrado, precisamos enxergar o que ele pode ser. Pode ser um meio de transporte, pode mudar nosso planejamento da cidade, precisamos pensar as bacias hidrográficas e vivê-las”, finaliza.
É pensando no futuro dos nossos igarapés e rios, do nosso centro histórico e urbano, e na necessidade da democratização da representatividade de todos os grupos que as escolhas do presente pedem com urgência uma consciência coletiva. O propósito dessa live é explicitar a todos o que o Circular propõe para a cidade: uma Belém diversa e de políticas transversais.
Veja a live na íntegra:
https://www.youtube.com/watch?v=3QG43fyTH9s
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